Noel Rosa representa o clássico paradigma da música brasileira com estilo que para muitos pode parecer simples mais que apenas frisa o refinamento científico do samba carioca, onde a linguagem direta, sem rodeios, ou melhor, sem barroquismos, basicamente diferencia o samba carioca da maioria dos outros estilos musicais sejam estes brasileiros ou internacionais, onde se confudem poesia e eruditidmo.
Fico apenas triste em ter quer dizer o meu “Último Desejo” na crítica: Confesso ter sentido falta de outras obras (Que me perdoem por esta brincadeira com o título de música). Contudo, quero que este seja visto de forma positiva no sentido de que o trabalho realizado por Rui de Carvalho e Flávio Pereira, está realmente belo e rico.
É nessa simplicidade de Rosa que precisa ser levada ao palco e não pode ser esquecida. Afinal, como dia o próprio Noel: “A música é uma forma de oração”. Assim, ela deve ser simples, coerente, harmoniosa e direta para que os seus conceitos possam ser melhor assimilados. Por isso, ele fez o samba descer do morro para o asfalto.
A real interpretação do samba, principalmente em se tratando de Noel Rosa, deve ser feita com muito suingue e muita malemolência e também deve ser capaz de passar a impressão do bom malandro ou boêmio, que na concepção carioca são sinônimos e Rui de Carvalho exibe com brilhantismo em um timbre de voz misto, entre João Nogueira e Agepê. É o que nos passa essa gostosa impressão, mesmo não sendo Rui um carioca de nascimento.
ARRANJOS QUE ENRIQUECEM AINDA MAIS O CD
O Arranjo feito por Flávio Pereira à base de violão, tamborim e ganzá é outro destaque extraordinário, porque demonstra muito bem a forma de apresentação das músicas nos bares cariocas, ao tempo de Noel, muitas vezes apenas feitas com um violão e uma caixinha de fósforo. As músicas no trabalham buscam fugir do melancolismo e flertam até com a bossa nova em algumas faixas.
Também a forma coloquial com que as músicas são apresentadas e a firme na interpretação mostram a grandeza do intérprete, capaz de exaltar com muita elegância toda a graça que há por trás de músicas como: “Gago Apaixonado” e “Conversa de Botequim”; assim como mostra todo o romantismo sublime em faixas como: “Três Apitos” e “Fita amarela”. Rui ainda consegue um misto de alegria e tristeza na música “Feitio de Oração”, caracterizando bem a idéia de alegria numa triste melodia. Ou seja: Coisa de gente grande!
Sem perfeccionismo sugiro apenas a inclusão de um surdo-pedal em algum momento, porque a marcação do surdo é que dá ao povo a vontade de dançar, guiando-lhe os pés no samba e como o arranjo, talvez até em virtude de seu propósito, tenha ficado um pouco leve, o que deixou a impressão de ser uma obra apenas para ouvir. Mas o povo também quer sambar!
Fico apenas triste em ter quer dizer o meu “Último Desejo” na crítica: Confesso ter sentido falta de outras obras (Que me perdoem por esta brincadeira com o título de música). Contudo, quero que este seja visto de forma positiva no sentido de que o trabalho realizado por Rui de Carvalho e Flávio Pereira, está realmente belo e rico.
O que fica em nossas mentes, ouvindo este cd do gênio mítico Noel Rosa, é que ele tem que ser visto pelos mais jovens como um artista fundamental para as nossas raízes e que eles possam ter conhecimento total de sua influência dentro do samba ou, como quiserem, da música brasileira, semelhante à camoniana na nossa literatura clássica.
Por: Ubiratan Marques (músico e sambista) / Colaborou: Cadhu Cardoso (jornalista)
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