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Noel Rosa da Vila e do mundo

Noel posa para a revista Voz do Rádio, em 11 de abril de 1935

Por Luís Pimentel

Ele viveu apenas 27 anos, mas deixou uma obra de tirar o fôlego de qualquer um: mais de duas centenas de músicas, todas com garantia de qualidade jamais questionada. Ano passado fez 70 anos que partiu Noel de Medeiros Rosa (4 de maio de 1937), da Vila e do mundo.

O autor de momentos sagrados da MPB, como Conversa de botequim, Pra que mentir?, Pela décima vez, O orvalho vem caindo, Silêncio de um minuto, Feitio de oração, X do problema e de tantos, tantos outros, veio ao mundo marcado (e para sempre) pelo fórceps que lhe fraturou a afundou o maxilar inferior no dia 11 de dezembro de 1910. Carioca, nasceu na Rua Teodoro da Silva, em Vila Isabel, filho de um gerente de loja de roupas (Manuel Rosa) e de uma dona de casa (Marta de Medeiros Rosa)

Noel teve infância de menino classe média no Rio daqueles anos, com direito a escola, alimentação na hora certa, roupas bem passadas e lazer. Estudou em bons colégios e chegou à Faculdade de Medicina. Chegou, mas não ficou. O samba (que não se aprende no colégio) falou mais alto. A Medicina perdeu um doutor, mas a música brasileira ganhou seu mais inspirador compositor.

A primeira música foi gravada em 1928 (neste ano, do outro lado da linha do trem, Cartola, Cachaça e outros bambas estavam criando a Estação Primeira de Mangueira) e chamava-se Ingênua, uma valsa. Dois anos depois estourou com a irreverente Com que roupa? (Eu hoje vou mudar minha conduta/Eu vou pra luta, pois eu quero me aprumar). Em 1931, ainda tentando conciliar as atividades de estudante de Medicina com as de compositor, cantor, boêmio e namorador inveterado, gravou mais de 20 músicas e viu seu nome consagrado, sobretudo por conta da divertida Gago apaixonado (Mu-mu-um-um-mulher/Me fi-fi-fi-zeste um estrago).


Daí em diante, era Noel Rosa, o poetaço da Vila, pontificando no Café Nice, nos bares da Lapa, no teatro de revista, no Theatro Central, nas principais emissoras de rádio, polemizando com Wilson Batista (outro gigante), namorando coristas e produzindo sem parar. Numa época em que uma simples tuberculose matava, o Poeta da Vila bebeu muito sereno – sempre acompanhado de um bom traçado, um conhaque e a cervejinha de fé – e descuidou do peito. Tentou salvar os pulmões nos inúmeros recantos de recuperação então existentes, mas não conseguiu.